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Memória afetiva e documentada, a fotografia contando histórias

Salve pessoa!

Porque a fotografia fascina tanto as pessoas? Vemos muita gente que a tem como paixão, já reparou que nos dias atuais todo mundo é fotógrafo? Está explicado porque Fotografia seja o “sobrenome” mais comum encontrado no Instagram, mais até que o Silva, que a estrela não brilha… esse mesmo que você pensou, o pai de família.

Sigo buscando respostas, e identifiquei fatores na minha própria trajetória que podem servir de exemplo de como é importante preservar a memória, individual e coletiva.

Conclui que sempre fui carente de memória, foi tardia essa percepção e geralmente é assim que ocorre, só percebemos o valor tempos depois. Associo imediatamente minhas memórias a fotografia que não foi feita agregando valores afetivos ao longo do tempo. Quase não possuo fotos da minha infância, por exemplo, e igual frustração tenho sobre uma das minhas primeiras paixões, o futebol.

Joguei bola por um bom período, do final da infância por volta de 1981 até me profissionalizar em 1992 até 1998 e tenho poucas imagens dessa época, e as que tenho são de péssima qualidade, pois o acesso a fotografia não era fácil como é hoje. É lamentável porque o verdadeiro valor dessas imagens que não tenho é diretamente ligado a fatos da minha vida importantes pra mim, é aí onde quero chegar. 

Apenas agora entendo a linguagem fotográfica como uma das formas em que melhor digo o que quero dizer. Sendo bem sincero, seria clichê afirmar que escolhi a fotografia por ser a forma que melhor me expresso. Me interessei pela linguagem ainda na adolescência, sem referências, influência familiar ou na escola, nada  que me inspirasse de fato, e nessa época a área era um universo bastante seleto e glamourizado. Coisas da era analógica. Esse detalhe talvez tenha me atraído, em um primeiro momento. Demorei até enxergar o verdadeiro valor da fotografia.

O avanço da tecnologia na produção de imagens é uma maravilha total, mas é preciso entender o papel da fotografia nisso tudo, suas possibilidades e ainda o seu propósito. Vivemos nossa rotina diária e acontece um fenômeno bastante comum nos dias atuais, não valorizamos devidamente momentos preciosos em nossas vidas, nós apenas os vivemos e em geral culpamos o tempo corrido, ou a falta dele. Quando percebemos, já é tarde demais, o tempo não pára… é implacável.

A juventude se vai e os filhos crescem, aquela viagem inesquecível se perde em inúmeras imagens produzidas sem nenhum apreço, no interior de algum HD ou um pen drive no fundo de uma gaveta. Aliás, esse é outro assunto de difícil conclusão: o armazenamento desses arquivos.

Mas esse é tema pra outra hora.

Ainda assim, muitas pessoas criticam quando deixamos de aproveitar o momento presente para “bater uma foto”, alegam ser um comportamento nocivo causado pela modernidade. Talvez seja, mas minhas principais críticas aqui nesse texto está no campo estético e na banalização do ato em si, digo, o de fotografar. Culpa do tempo corrido (olha ele aí de novo). Miguel Rio Branco em entrevista conta que não se interessa mais em fazer registros de coisas que todo mundo faz à todo tempo. Discordo, mas é o ponto de vista dele e suas motivações em relação ao próprio trabalho.

 Eu acredito que a fotografia nunca esteve tão em alta e que tais imagens ajudarão a contar sobre nossa passagem por aqui e da importância de um registro da nossa existência. O fato é que toda essa tecnologia, acessível à quase todos, e a consequente profusão de imagens representa o bem e o mal, dependendo de como esse “poder” seja usado. A história precisa ser devidamente registrada e documentada, como tem que ser, é certo que algumas com mais beleza aos olhos de quem vê (é clichê mas é verdade) ou representatividade que outras, mas todas importantes para alguém.

Ps: na imagem que ilustra essa publicação estão meu pai (in memoriam) e meu tio, registro histórico dos brothers participando da tradicional pelada de domingo, não sei o ano ao certo. Clique aqui para visualizar.

Fotografia é memória, ou não é?