Salve Pessoa!
Uma coisa que tenho pensado muito nos últimos tempos é sobre o papel do artista como reflexo (no sentido do espelho) do comportamento da sociedade contemporânea: qual o papel da arte e do artista em se tratando da sua função social e política? Confesso um certo incômodo sobre as motivações do artista alheio ao mundo em que habita, que pretensiosamente sempre busca “provocar encantamento” ou “sensibilizar” o outro por meio do “belo”.
Participo de um grupo relacionado a fotografia no Facebook, por lá foi publicada uma imagem que trouxe bastante polêmica e polarização de opiniões ideológicas. A imagem era de um casal se beijando, e ao fundo, uma manifestação contra o atual governo federal, clique aqui para visualizar. Os administradores, agindo como censores, excluíram a fotografia arbitrariamente, e isso gerou profundo mal-estar no grupo. Uma parte defendia que a liberdade de expressão havia sido violada e, no lado oposto, alegavam ser o grupo destinado à fotografia e sua linguagem não cabendo posicionamento político, dando razão a atitude dos administradores. O fato é que isso não havia acontecido em outras ocasiões, quando a outra vertente política fora “alvo” de cliques ambíguos. Esse é um ponto.
Podemos desassociar a política da vida? Não. E da arte? Talvez. Provocar reflexão ou encantamento, seria o dilema do artista contemporâneo.
É uma opção do artista apenas a busca de um resultado estético, mas seria, na minha opinião, um esvaziamento da potência da arte, enquanto objeto provocador de reflexão, o artista, a meu ver, obrigatoriamente deve retratar o seu tempo. Produzir arte contemporânea, pressupõe falar de contemporaneidade. O filósofo e escritor inglês Roger Scruton afirma em seu documentário “Why Beauty Matters?” (Porque a beleza importa) que “Estamos cada vez mais nos afastando do belo nas artes e na cultura ocidental, a beleza não é relativa, e sim absoluta, e fundamental para nossa qualidade de vida”. Não concordo com essa afirmação, a beleza é uma questão subjetiva e está muito mais ligada ao padrão que cada indivíduo desenvolve ao longo da vida, a percepção estética de tudo que nos rodeia varia de pessoa para pessoa e a arte é de suma importância como referencial, principalmente ao questionar padrões pré-estabelecidos, estéticos ou não, e despertar múltiplos olhares.
Ciência política faz parte das relações humanas e da vida em sociedade, seja ela a da boa vizinhança ou as que determinam os rumos do país em que (sobre) vivemos, ou do estado, da cidade, do bairro, do trabalho, da escola, enfim. Permanecer alheio a isso nos faz mergulhar em um profundo e fútil vazio, nos torna rasos. É uma triste dicotomia. Acho importante e digno um posicionamento seja ele qual for, demonstra caráter e coragem, mesmo que não concordemos. Respeitar tais diferenças é sinal de civilidade, e senso de coletividade.
E quanto a discussão no grupo do Facebook? Dissidentes fundaram um novo, os insatisfeitos com a censura migraram para lá, eu inclusive, só não saí do grupo autoritário… ainda.
Administro outro grupo, bem menos polêmico, o princípio básico é: difundir tópicos interessantes sobre fotografia e/ou artes visuais, o membro pode publicar suas fotos e o melhor, sem censura. O nome é “Incursão Fotográfica” clique aqui se quiser participar.
Inté